terça-feira, 20 de outubro de 2009

Prefiro Darwin

Quando eu era menor eu não entendia bem o que era deus. Acho que ele era o cara pra quem eu deveria recorrer se algo desse errado. Depois de um tempo, com algumas explicações, eu achava que ele era um cara bom, que parecia com o papai Noel e ficava sentado nas nuvens escutando as coisas que eu falava. Eu rezava toda noite. Antes de dormir, eu ficava repetindo aquelas orações decoradas e me questionava se deus entendia o que eu queria dizer, se ele realmente me conhecia através de alguns simples 'pai nosso'. Resolvi parar com isso e começar a conversar com ele, afinal ninguém lia meus pensamentos para checar se eu estava rezando ou conversando com ele. Assim fui fazendo até começar a testá-lo. Eu vivia pedido para que ele me respondesse, para que provasse que existia, me mandasse um sinal. Esperava alguns minutos, e nada. Para me conformar eu pensava "ele não manda sinais tão facilmente". E com essa falta de resposta eu fui me distanciando, perdendo esse pouco de fé que eu tinha. Recorria ao ser que não me respondia quando estava desesperada ou triste, mas sempre questionando a existência no final e desistindo de acreditar que os meus pedidos fariam alguma diferença.
Quando comecei a me ver não-católica eu já não o via como uma pessoa, mas como algo maior, uma energia, algo além do que eu pudesse imaginar, além de qualquer imagem que eu pudesse formar na minha mente. Então me conformei que ele não responderia nunca, nem mandaria sinais. Afinal era apenas uma força do universo. Muitas tardes ociosas e noites de insônia foram gastas pensando nisso. Até que parei num ponto. Ele não tinha nada a ver com religião, era um poder maior, uma energia, que eu enxergava como sendo o "culpado" por tudo de lindo que tem no universo e por todos os bons sentimentos do ser humano. Isso, para mim, era divino. No capeta eu nunca acreditei. O lado mau das coisas estava nos próprios seres humanos, e não numa força maligna que competia com deus. Então eu tinha chegado à conclusão de que não adiantava nada rezar, pedir, agradecer, conversar, apelar, porque ele não era uma pessoa, ou um ser propriamente dito. Ou seja, eu simplesmente acreditava em algo maior.
Algo maior? Muito vago. Eu também achava. Mas foi no que eu acreditei durante um bom tempo. E foi tentando explicar exatamente no que eu acreditava que entendi melhor o que eu mesma achava.
Numa das minhas noitadas, com amigos queridos, com quem adoro passar horas filosofando, eu percebi que não acreditava em deus. Eu apenas dava outro nome ao que eu acredito.
Eu acredito na Natureza. Tudo de belo que eu enxergo à minha volta, tudo que eu considerava divino, é natural. O mundo chegou onde está por causa da natureza, e vai pra onde tiver que ir por causa da natureza. Todas as transformações físicas e químicas que vão modificando os átomos e transformando coisas, é tudo natural. E, quanto aos sentimentos, são as nossas características mais belas e autênticas, e são nossas, dos seres humanos. Não proveniente de alguma outra força ou energia.
Ateia, com orgulho.
Para mim, deus não existe. E não acho nada que prove o contrário.
Procuro respeitar muito a opinião alheia, assim como desejo ser respeitada.

E se alguém se sentiu ofendido com algo que leu aqui, sinceramente, não deveria estar aqui.

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