sexta-feira, 16 de maio de 2014

Em voz alta

Parei pra ouvir uma música que tinham me indicado.
Gostei dos primeiros acordes da música de cara, como raramente acontece. Parecia ser exatamente o ritmo que eu queria ouvir naquele momento, não era muito agitado, mas tinha os sons fortes. Fui achando a letra interessante e o clipe era gostoso de ver. Aí tocou o refrão pela primeira vez. Eu estava completamente submersa no ritmo da música quando o refrão veio, colocando tudo que se passava na minha cabeça em versos. Meus olhos arderam e minha garganta ficou apertada. Dali pra frente todas as frases da música se tornaram pessoais. A música não era sobre mim, mas era exatamente sobre o que eu estava sentindo naquele momento. O ritmo estava certo, a letra estava certa e o clipe também.
Me senti desarmada. Tinha alguém falando em voz alta o que se passava na minha cabeça.
Em seguida, me senti aconchegada. Tinha alguém falando em voz alta o que se passava na minha cabeça.

Esse tipo de identificação com uma música chega a ser assustador.
Acho que a gente sempre procura se identificar com algo, o tempo todo, mas não deixa de ser assustador se sentir desarmado assim frente à versos.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Assistir o tempo passar

O céu estava amarelo e as nuvens mal se moviam.
Dois carros entravam em suas casas, vizinhas, ao mesmo tempo. Fizeram a curva no mesmo ângulo e esperavam o portão abrir durante o mesmo tempo. Aceleraram juntos e chegaram ao fundo da garagem no mesmo instante. Sem nada disso ser combinado.
O céu ainda estava amarelo.
Minha respiração embaçava o vidro onde eu me apoiava com a testa.

E o céu amarelo.