sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Blue Valentine

Acabei de assistir Blue Valentine. Ou Namorados para Sempre, no título traduzido (terrível adaptação de título).

Não vou contar a história do filme, mas houve vários momentos em que me emocionei. E em nenhum momento eu estava feliz. Por mais que as cenas fossem felizes, eu chorava de tristeza.
Não me lembro de ter me sentido assim, como estou agora, com nenhum outro filme. Eu já terminei vários filmes em prantos, me emociono com uma certa facilidade. Mas eu não terminei este em prantos. Eu terminei triste.
Um pouco depois do fim eu tentei conversar sobre o filme com o Igor. Não consegui ir longe, meu olho ardeu e me deu um nó na garganta. E eu também vi os olhos dele se molharem.
Mudamos de assunto. Antes de vir embora pra casa eu só reforcei o quanto eu tinha gostado do filme, mas não tentei mais conversar sobre ele.
No carro, voltando, chorei o percurso todo. Me dói, parece que foi comigo, parece que eu realmente tenho motivos pra ficar triste. Ainda no carro eu tentei me convencer a parar de chorar pensando nisso, que não é comigo, não tem porque eu ficar assim.

Quando as cenas me voltam à mente, quando começo a remoer tudo o que aconteceu no filme, me dá vontade de chorar de novo.

Em conflito com a tristeza que estou sentindo está a  felicidade de ter visto um filme tão bom. Realmente muito bom.

Não indico pra qualquer pessoa.
Não deve ser visto num dia triste, mas também acho que não deve ser visto num dia totalmente feliz.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Trânsito

Eu odeio dirigir.
Eu gosto de ter carteira, de ter um carro disponível, gosto da prática e da independência que isso me proporciona. Mas eu odeio dirigir.
Eu odeio dirigir porque o trânsito faz transparecer todas as falhas e os podres da sociedade. Ou você acha que uma pessoa que acelera pra passar correndo no sinal vermelho é um bom cidadão? Você acha que o motoqueiro que fica olhando o semáforo alheio amarelar pra sair antes do dele esverdear pode ser uma pessoa que tem um mínimo de consciência social? Acha que são racionais aquelas pessoas que buzinam quando o trânsito está parado? Que tipo de atitude você espera de alguém que dirige embriagado?
Isso pode ir longe.
E se você acha que são apenas os motoristas que me irritam, se engana muito. Eu tenho vontade de gritar pela janela do carro quando os pedestres afunilam o caminho, pela pressa de atravessar. Um dia eu ainda vou denunciar aquela mãe que coloca o carrinho de bebê na frente dela pra atravessar a rua. E tudo isso fora da faixa de pedestre, óbvio. No Brasil o conceito de faixa de pedestre não pegou. Os motoristas não entendem e os pedestres muito menos.

Esse trânsito fica cuspindo na minha cara a sociedadezinha medíocre em que eu vivo. Ele mostra que não basta você fazer a sua parte, se tiver outra pessoa por perto fazendo errado o seu esforço é anulado. Quem está fazendo errado vai sempre conseguir o que quer. E, se não conseguir, os dois lados sofrem as consequências.
E isso não é o puro reflexo de tudo que se passa no Brasil?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Geração Coca Cola?

Eu estou na geração dos laptops, palmtops, Ipads, Ipods, smartphones, touchscreen pra cá, touchscreen pra lá.
Tenho vergonha dessa geração. É a geração dos folgados. Estamos cada vez chegando mais perto daqueles seres humanos do filme Wall-E. Aliás, esse filme é um tapa na cara da nossa geração que quase ninguém entendeu, porque não fez diferença em ninguém. Mas isso é característica dessa geração: um monte de críticas que todo mundo acha "genial" e não faz nada.
Cada um cria sua mini-revolução em blogs (cá estou eu!), Twitter, Facebook, correntes de e-mail, assinaturas on-line, e nada concreto.
Eu vejo coisas daquela época (não muito distante) que todo mundo ia pra rua pra gritar por alguma coisa, ou ia falar em público pra um monte de gente ouvir, ou ainda iam fazer bagunça perto de gente importante pra ver se fazia alguma diferença, e eu sinto muita inveja. Não sei se tinha muito efeito, talvez tivesse tanto efeito quanto as mini-revoluções internautas de agora, mas eu sei que precisava de muito mais coragem, precisava ter peito, dar a cara a tapa. Porque se algo desse errado você seria repreendido, espancado ou preso. Agora, na internet, se algo acontecer você vai simplesmente perder a sua conta em determinado site.
Eu queria muito sentir isso que essa geração anterior sentia, sentir essa vontade de lutar por alguma coisa, ter um ideal que parecesse realmente digno. Mas nada desperta essa sensação em mim. Nada.
Eu me revolto com muitas coisas, eu tenho vontade de corrigir muitos erros do mundo, mas acho que a gente estuda tantas pessoas que tentaram fazer algo e deram com a cara na parede, tantas revoluções que não deram em nada, tantos poderosos driblando os esforços de trazer paz ao mundo, que simplesmente não dá vontade.
Os poucos que tem vontade de fazer alguma coisa são ofuscados pelos muitos que estão realmente preocupados com o dinheiro, e nada mais.
Assim não dá.

Essa geração é Pepsi.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Toxicity


Tinha uma época que eu juntava minha mesada só pra comprar CD. Eu adorava e fazia questão de ter os meus CDs favoritos, originais.
Eu já conhecia System of a Down por causa do meu irmão. Lembro bem de andar pelas ruas de Botelhos e dele botar o CD pra tocar bem alto, a gente ficava tentando entender a letra da música juntos.


Aí um dia eu fui no supermercado e achei, dando sopa, o Toxicity. A capa daquele CD me arrepiava, achava lindo aquele letreiro hollywoodiano e aquela foto amarelada.
Aí eu comprei imediatamente. Voltei logo pra casa e fui ouvir.
Você já passou por isso? Colocar pra tocar um álbum que você já conhece inteiro, mas ficar lá só pra isso, tirar um pedaço dos eu dia só pra ouvi-lo inteiro novamente?
Eu fiz isso. Fiquei sentada no chão, na frente do aparelho de som do meu quarto, coloquei pra tocar no máximo, fechei a porta do quarto.
Sabe aquele impacto da primeira música, Prison Song? Impacto mesmo, ela bate no peito, vibra tudo em volta. Ela anuncia o álbum todo que está por vir.


Então, imagine isso ao vivo.


01 de outubro de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Procurando o caderno

Eu não sei se isso foi distração ou um estado inconsciente de procrastinação, só sei que eu queria anotar uma receita.

Vim procurar a receita na internet e vi que estava sem o caderno de receitas.
Fui procurá-lo na cozinha e resolvi tirar as coisas da mesa e colocar na geladeira.
Voltei pra procurar no quarto e achei umas imagens que eu queria colocar na montagem que faço embaixo do vidro da minha mesa de trabalho.
Tentei organizar as coisas pra colocar as imagens na montagem, mas pensei que ia demorar muito.
Desisti e voltei a procurar o caderno.
Olhei pro jornal e lembrei que tinha tirinhas pra recortar.
Recortei tirinhas de dois dias do jornal e lembrei que eu precisava fazer outra coisa.
Não consegui lembrar imediatamente o que era, achei que fosse algo do estágio.
Sentei em frente ao laptop pra começar a fazer o que eu achava que tinha que fazer e lembrei o que era que eu realmente queria fazer.
Fui procurar o caderno de receitas no outro quarto.
Achei o caderno com uma caixa de baralho em cima.
O baralho estava bagunçado, resolvi conferir se tinha perdido alguma carta.
Sentei na cama e conferi o baralho todo.
Realmente estava faltando um rei de copas.
Comecei a pensar nessa mistura toda de distração e procrastinação que tinha acabado de acontecer e resolvi falar sobre isso aqui no blog.

Ainda não anotei a receita.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Volta pra casa

- O que você viu enquanto voltava para casa?
- Como assim?
- O que você viu no caminho?
- Nada.
- Nada?
- É, nada.
- Impossível.
- Como assim? O que você quer saber?
- Você viu algum poste?
- Lógico.
- Quantos?
- Ah! Vou saber...
- Mas então você viu alguma coisa.
- Ué, vi.
- Então?
- Nada.
- Nada?
- Ué, nada! O que você quer?
- O que você viu?
- Vi três meninos batendo figurinha na porta do colégio; vi um restaurante que chamava “Nosso Lar”, me perguntei se o dono seria espírita; vi muita gente com roupa de ginástica na porta de uma academia; vi dois caras falando de um jogo de futebol; vi um carro de auto escola com a instrutora explicando algo sobre rotatórias para o aluno; vi um cara fazendo baliza; vi um cruzamento que tinha todas as esquinas chanfradas, pensei nas aulas de urbanismo; vi uma cadela no cio deitada no meio da rua com cinco outros cachorros em volta dela, e os carros desviando de todos eles; vi uma casa amarela que tem uma arquitetura bonita, diferente; passei por uma casa que tinha dois cachorros velhos, um pequeno e um grande, que não estavam mais lá, me perguntei se eles haviam morrido; passei por uma outra casa que tinha um Pit Bull vira-lata que abanava o rabo pra mim, mas ele não estava lá; e passei por outra que tem um Poodle preto que sempre late muito, mas ele estava dormindo; passei por uma mãe com uma criança levando o cachorro pra passear, o tênis da menina piscava e eu me perguntei o que será que o cachorro achava daquilo; passei por uma meleca amarela no chão que parecia mostarda velha; passei por um ferro-velho que tem uma placa de “Cuidado com o cão”, mas nunca tem cachorro nenhum lá; passei por uma moça perguntando pra vizinha se o controle que ela tinha achado mais cedo no quebra-molas era dela – não era; passei por um muro escrito “vende-se” e dois números de celulares embaixo, um começava com 88 e o outro com 91... mas, sei lá! Não reparo muito nessas coisas!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Orgulho Hétero

Eu juro que às vezes sinto muita vergonha de ser tão Homo sapiens quanto qualquer hétero retardado.
Mais pra frente, nos livros de história, haverão registros dos dois maiores marcos de preconceito no mundo: o dia da criação do partido Nazista e o dia em que foi inventado o Orgulho Hétero.

Ei você, hétero retardado e orgulhoso disso, qual é o seu problema? Sério, qual é o seu problema? Você acha que é doença? Você tem nojo? Tem algum homossexual encostando em você? Você está sofrendo assédio? Você acha que é errado? Acha que não é de Deus? Acha que é contagioso? Te afeta em algum segundo da sua vidinha medíocre?
O orgulho gay só existe porque eles precisam de um dia pra respirar com alívio, sem a pressão de vocês.
Eles precisam de um dia pra ver que existe alguém do lado deles.
Eles precisam de um dia pra poder segurar na mão do companheiro sem temer nada.
Eles precisam de um dia pra agir com naturalidade.
Eles precisam de um dia pra falar o que pensam.
Eles precisam de um dia pra desabafar.
Eles precisam de um dia pra beijar na boca.
Eles precisam desse dia porque pra muitos deles é só esse dia que eles tem.

Vocês não sabem o que é ser julgado por amar outra pessoa.
Vocês não imaginam como é crescer num ambiente que te convence de que você tem algo errado.

Já ouvi muita gente dizer que tem pena de quem é homossexual, por causa dos problemas que vai enfrentar na vida. Pra mim, já começou aí o problema, com esse tipo de sentimento. Já está pré determinado que é algo, no mínimo, diferente. Por quê? É tão natural, é tão simples.
Você não vê problema nenhum em explicar pro seu filho o mito de um homem pregado numa cruz, com espinhos na testa e escorrendo sangue, mas acha o cúmulo ter que explicar pra ele porque dois homens estão de mãos dadas.

Sinceramente, enfie esse orgulho aonde você tem mais medo que te aconteça alguma coisa.
Tenha é vergonha de falar em voz alta sobre como a sua vida é fácil.

Esse post é dedicado com todo o meu ódio para todo e qualquer hétero homofóbico do planeta.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

With love, from me, to you

Músicas me emocionam muito.
Mas eu sinto algo muito profundo quando ouço uma música que sei que foi dedicada a alguém. Eu não sei se é assim com todo mundo, se isso é muito óbvio, mas comigo não falha.
Música e poesia são coisas que ficam eternizadas. Dedicar a alguém é uma forma explícita e sincera de demonstrar afeto, amor ou ódio.
Até as músicas de ódio dedicadas a alguém acabam sendo mais interessantes. Pensar que aquele sentimento ruim todo está direcionado a alguém, ao que essa pessoa fez.

Só estou escrevendo isso pra poder indicar algumas músicas para os fantasmas que habitam o blog.
E espero que os fantasmas também me indiquem músicas desse tipo.

Por favor ouçam (e leiam com muita atenção a letra):
Here today - Paul McCartney (para John)
My love - Paul McCartney (para Linda)
Beautiful Boy - John Lennon (Para Sean)
Hey Jude - The Beatles (Para Julian)
Kim - Eminem (para Kim)

E tem muitas outras, mas só lembrei destas por agora. Eu to puro Beatles. E lembrei da do Eminem porque as músicas de ódio direcionado que conheço são dele.

Talvez eu goste tanto disso porque eu já tive uma poesia dedicada a mim. Do meu pai.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Up and Coming Tour.

It was written that I would love you from the moment I opened my eyes.

Em minha vida toda nunca achei que veria um show do Paul McCartney.
Era algo inalcançável. Beatles era algo inalcançável, parecia mito.
Eu nasci ouvindo Beatles, cresci sabendo que aquilo era música, que aquilo era o começo de tudo, que antes disso não tinha nada muito relevante. Eles são a base pra qualquer outra coisa. Qualquer banda é inspirada nos Beatles direta ou indiretamente.
Então, como o John já havia morrido quando eu nasci e como Beatles já não existia mais há um bom tempo, eu achava simplesmente impossível, eles eram intocáveis.
Mas eu não ficava triste por causa disso, afinal era impossível, não havia nada que eu podia fazer, era simplesmente uma coisa distante, alta, num pedestal.
É como um amante de futebol que quisesse ver a seleção Brasileira de 58 jogar. Impossível assim.

Aí veio o show de São Paulo. Eu não sei exatamente qual lógica passou pela minha cabeça de pensar que eu não poderia arcar com as despesas disso. Não há desculpas pra não ir em um show do Paul. Eu venderia minha alma, se necessário. Só que eu só fui pensar melhor nisso depois dos ingressos esgotados. E aí eu vi o show pela TV, chorei demais. Devo ter passado umas duas semanas amargas, muito depressiva, não me perdoando por ter deixado essa chance única escapar.
Ah, que gosto delicioso de estar errada. Surgiu a confirmação do show no Rio. Foi tudo muito rápido, nem raciocinei bem, minha irmã e minha tia já programaram tudo, compraram tudo e pronto, estava tudo certo. Pronto, eu ia, era certo, absoluto. Só a morte me impediria disso.
A ficha demorou pra cair.

21.V.2011
Dava vontade de perguntar pras outras pessoas no ônibus "você também está indo ao show?".
Nas ruas do Rio eu identificava quem ia estar lá no dia seguinte também. Várias pessoas com camisetas dos Beatles e do Paul, vários sorrisos incrédulos, como o meu. Um clima indescritível.

22.V.2011
Acordei meio anestesiada. Fui dar uma volta no Aterro do Flamengo olhando bem cada um que passava de bicicleta. Depois teve o almoço na casa da tia Virgínia. Que clima. Já estava todo mundo meio emocionado, ver o Paul no DVD cantando Hey Jude e raciocinar que dali algumas horas aquilo seria real foi demais. Não aguentei. Chorei.
No metrô já havia um ar diferente, eu ficava tentando adivinhar quem estava indo pro mesmo lugar. Na Central do Brasil foi emocionante, cartazes, muita gente com seu uniforme de show, um fluxo na mesma direção e as pessoa de verde que indicavam o caminho e desejavam "bom show". Chegando no Engenhão, o primeiro coro, acompanhávamos um rapaz que tocava e cantava Twist and Shout. Ah, que clima! Que clima! Aí veio a fila, enorme e deliciosa, só alimentava esse clima. Uma fila de gente feliz, muito feliz. A monumentalidade do Engenhão também só ajudava. Depois de muito tempo de fila, de muita ansiedade, andamos calmamente para um lugar onde coubessem seis fãs bobo-alegres. Setor superior leste. Tocavam músicas dos Beatles cantadas por outras pessoas, lindas versões.
21:45 apagam-se as luzes. Fiquei em pé, coração na mão. You say yes, I say no, you say stop but I say go, go, go. Minha mente não acreditava, parei de sentir meu corpo, as lágrimas escorriam incessantemente, a voz não saía direito. Foi aí que caiu a ficha. Durante umas três músicas eu chorei sem parar. Depois acho que as lágrimas secaram, mas a cada música que começava eu pensava "não acredito que estou ouvindo isso" e dava outro nó na garganta. Ele conversava com a plateia e eu sentia como se fosse diretamente comigo, e respondia como se ele ouvisse apenas a mim. E cantava com força pra ter certeza que eu fazia parte do coro todo que o estava acompanhando. Eu o medi, cabia entre meus dedos, tinha cerca de 1,5cm de altura de onde eu estava. Muito longe? Não. Muito, muito perto. Muito mais perto do que qualquer sonho que eu nem tive, por nunca achar que seria possível ver, ouvir e cantar junto com aquele que compôs Hey Jude. Eu estava vendo um dos four lads who shook the world. De Liverpool para mim. Para mim!
E senti como se o John estivesse lá em Here Today. For you were in my song.
Eu ainda não acredito completamente.
I don't know why you say goodbye I say hello.

domingo, 8 de maio de 2011

Alergias

Deu vontade de fazer um texto sobre um monte de coisas que passaram pela minha cabeça hoje.
Eu fiquei fuçando no blog, relendo comentários, e deu uma saudade daquela época que eu postava várias vezes no mesmo mês, porque parece que eu estava com muita coisa pra falar e queria falar. Então resolvi postar em homenagem a isso.
A
s pessoas que não tem alergias são muito mais felizes. Alergia é uma doença, é a pior coisa que você pode ter, transforma a sua vida, chega a moldar um pouco a sua vida. Ontem eu vi rapidamente uma cena na TV de uma criança pegando algo em cima de um armário, uma caixinha muito empoeirada, e dando aquela assoprada por cima e depois passando a mão pra ver bem como era a caixinha por fora, antes de abrir. Essa soprada me dá vontade de espirrar, me coça o olho. Eu acho incomum ver uma pessoa sem alergias, sem pelo menos uma rinitezinha, então essa cena me parece muito irresponsável pela parte da criança, ou dos pais que não estão vendo-a fazer isso. Mas na verdade é normal, porque ela não tem alergias. Eu invejo aquela criança. Invejo mesmo, porque eu sei que aquilo era uma cena, mas tinha uma criança atuando ali, uma criança que realmente soprou um monte de poeira perto do rosto e não sentiu nada, a cena continuou sem ela precisar de uma bombinha, ou um lenço, ou um colírio, ou um médico.
Eu sou uma pessoa muito alérgica.
Poeira pode me fazer espirrar, tossir, lacrimejar, causa conjuntivite alérgica, bronquite, rinite, faringite, e vários outros ites.
Certos tipos de pêlo também podem me causar todos esses ites aí de cima.
Algum componente da urina de certos animais me da coceira, deixa minha pele vermelha, e também pode causar os ites aí de cima.
Eu tenho dermatite atópica, ou seja, eu sou alérgica ao ambiente em volta de mim.
Coco me faz inchar, pode fechar a minha garganta se inchar muito, se eu encostar pode deixar minhas articulações rangentes e inchadas também, me deixa vermelha, me faz vomitar, enfim, causa os tipos de reação alérgica mais poderosos.
Camarão não me cai bem, nunca comi muito porque vai fazendo minha língua coçar.
Cheiro de gasolina me dá náusea. (Isso nem é uma alergia)
E acho que é só.
Então eu não sei bem o que é uma pessoa não se preocupar com nada disso, eu não como nada sem investigar primeiro, eu não entro em lugares que ficaram fechados por muito tempo, eu não visto roupa que estava guardada por meses no armário, eu não posso arrumar a cama sem uma janela aberta, eu nunca poderia participar de uma briga de travesseiros, eu não posso nem rir além da conta, porque me dá bronquite.
Enfim, eu ando com antialérgico na bolsa e bombinha pra bronquite e remédio pro nariz, mas não é que eu sou hipocondríaca nem nada, eu só sou alérgica.
Eu amo cachorros, não tenho alergia deles, mas eu não poderia ter um cachorro no meu apartamento, eu não poderia ter um cachorro que sobe na minha cama ou no meu sofá. Eles não me causam alergia, desde que eu não viva no mesmo ambiente que eles.
Essa é a parte mais triste.

P.S.: eu era tão encanada que antes de eu dar o meu primeiro beijo eu ficava muito preocupada achando que poderia acontecer da outra pessoa ter tomado água de coco ou algo assim antes, e me dar alergia durante o beijo.
hahahaha

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fuzarca

Virou um fuá a história de que eu queria meter a fubeca com um fueiro na fuampa da esquina. Aquele fubica de nada que veio fuçar na conversa, fúfio, vinha dizendo que meu fiambre furtado era da fubana maldita, só porque achou o nome da tal no ficheiro de fiados da venda da praça. Fuão fubento, cheio de fogagem, levou uma fubecada na orelha e caiu com a mão num fulgorídeo, fugiu sem fôlego e derrubou o fulgente lampião da loja do fulano. Virou um fogacho. O fulano, dono da venda, febril de raiva, passou a chave no fechal e foi correr atrás do fanfarrão.
Quando fui ver a fuampa fajuta tinha fugido. A fuga foi um falhanço, pois ela tropicou no saco de feijão do feminil feirante e foi de cara no furrundu da barraca do final do feiroto do fim de semana.
Aí eu perdi a fome e desisti do fiambre. Furtei um figo e fui fuxicar com o fabiano que voltava da briga do fulano fachudo da venda e do fubica fedido que pôs fogo na loja. Achei que o façanhudo da história era o fachudo da loja, mas foi um fracasso. O fuá todo só rendeu pra fofocada das férias todas. Todo mundo só falava do fiasco do fouveiro e do fogaréu da loja, ninguém futricava sobre a fubana fujona.

[Passei muito tempo na letra F do dicionário pra fazer esse texto. Foi só pra testar a qualidade de um texto baseado em nada além das ideias que as palavras esquisitas do dicionário iam sugerindo. Espero que tenha ficado divertido, pelo menos.]

terça-feira, 15 de março de 2011

Ela

Eu a achava fria.
Sempre gostei muito dela, ela não tinha nada de diferente, eu só a achava fria. Porque ela não se apaixonava. Nós estávamos numa época que parecia ser muito fácil se apaixonar por algum menino. Assim como era muito fácil se decepcionar, ficar triste, quebrar a cara. E isso não acontecia com ela. Porque parecia que ela passava por cima disso tudo, parecia que ela não sentia nada muito profundo. Mas eu não a achava fria como amiga, nem como filha, nem como irmã. Ela até dizia que se apaixonava, como todas nós, mas eu não sentia isso nela.
Eu me acostumei. Nem pensava nisso mais quando ela veio dizer que tinha virado gay. E fiquei sem pensar nisso durante muito tempo.
Até que eu a vi apaixonada. Um dia ela veio até mim sofrendo porque o relacionamento com uma garota não tinha dado certo. Eu nunca tinha visto aquele olhar nela, eu nunca tinha percebido esse amor nela. Por mais que ela estivesse chorando e sofrendo, eu me senti um pouco feliz. Não por vê-la daquele jeito, não. Eu queria mais era abraçá-la pra ela poder chorar tudo que tava guardado. Mas eu estava feliz por saber que então ela não era fria, nunca foi. Ela só não tinha tido a oportunidade de sentir isso antes. E eu sei que quando dá errado o sofrimento é uma desgraça, parece infinito. Mas estar apaixonado é uma sensação que qualquer pessoa deveria sentir. Passar por isso é essencial. É lindo.

Eu fiquei feliz por presenciar um momento lindo e extremamente triste ao mesmo tempo.
E fico feliz dela ter vindo me procurar, e fico feliz de saber que ela confia em mim.

Pena estar longe agora, sinto uma saudade danada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Aparência

Pra que pintar a parede de preto?
Pra que fazer uma tatuagem?
Por que fazer outra?
Por que a terceira?
Pra que outro furo na orelha?
E outro?
Pra que alargador?
Pintou a unha de preto de novo?
Pra que mechas vermelhas no cabelo?
Mechas pretas?
Outra mecha?
Pra que?

Sempre que eu venho com alguma ideia nova a primeira coisa que a minha mãe me pergunta é "pra que?".
Eu sei lá.
Que pergunta difícil. Pra que você usa salto? Ou maquiagem? Essas coisas de aparência são difíceis de entender.
Nunca liguei muito pra isso, mas sei que acaba falando pela pessoa.
Vai ver eu quero simplesmente parecer o tipo de pessoa que faria essas coisas que eu faço com a minha aparência e pronto, sem nada mais por trás.
Eu não sei. Eu só sinto vontade de fazer.
Não pode ser simples assim?
Talvez isso tudo seja uma futilidade da minha parte. Até dói pensar assim. Sempre odiei futilidades.
Prefiro pensar que é uma maneira de me expressar e me fazer entender.
Pode ser também pra eu me sentir bonita, no meu conceito de beleza, e fazer a auto estima subir.
Mas nunca me preocupei muito com isso, sou meio relaxada com esse tipo de coisa.

Acho que a resposta mais bonita (porque faz parecer menos fútil) pra isso tudo seria dizer que a aparência é uma reflexão da personalidade.
Acho que é isso mesmo. Não pensando só em mim, mas em várias pessoas que me vem à mente.
Desde que a aparência não ultrapasse a personalidade, tá tudo bem.

Estou só fuçando nos pensamentos hoje.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Tia Glória

Tia Glória da voz de Cinderela.
Das musiquinhas e historinhas para os sobrinhos.
Dos diminutivos.
Do tricô e do crochê.
Das ceias dos natais.
Da salsicha enrolada com massa de pastel de depois do clube.
Do bolinho de arroz.
Da mãozinha macia de princesa.
Das roupas diferentes.
Do apartamento pequenininho de Santos.
Dos bonequinhos safadinhos.
Das colagens na parede.
Do bom humor.
Do dinheirinho deixado na árvore para os sobrinhos.
Dos gestos espontâneos.
Das histórias de viagem.
Da mastigação da língua.
Da voz afinada.
Da cantoria na cozinha.
Das artes.
Da janela do apartamento de Poços.

Eu sempre me fascinei por ela, pela vida diferente que ela levava, pela pessoa diferente que ela era. Tive uma ligação muito forte com ela. O natal vai ser incompleto, assim como a casa da minha avó. O mundo vai ser incompleto.
Guardo as mais doces lembranças.
A amo profundamente.