terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O homem grosseiro

Ele tinha os dedos tão grosseiros e uma falta de delicadeza nos movimentos, que não conseguia tirar um copo do saco plástico para beber água. Passou minutos sem conseguir puxar um copo, pensei em sugerir que ele bebesse na própria mão, mas seus dedos grosseiros não formariam a concha adequada, haveriam vãos. Enfim, ele fez uma força inadequada e amassou todos os copos, mas conseguiu tirar o seu. Já irritado, tomou um gole d'água com má vontade, no copo rachado. Parecia que engolia serragem. Toda esta grosseria se refletia no ser. O cabelo era branco, meio pintado, bagunçado, mas com uma intenção de penteado, coisa de quem saiu de casa apressado. Vestia um casaco enorme, que parecia ter preguiça de tirar, pois estava quente, ele certamente sentia calor. O tênis era velho, ameaçando vazar o dedão na frente, e o calcanhar ficava de fora, com a meia preta aparecendo. Aquele sapato não servia mais. Talvez faltasse dinheiro pra comprar um novo, não sei, mas a condição do sapato fazia a renovação de carteira parecer fútil e desnecesária.


Também escrito nas costas de um gabarito da auto escola.

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