terça-feira, 10 de novembro de 2009

Externo

As pessoas em volta comentavam de seus próprios "defeitos". Eram características tão peculiares que pareciam feias, mas eram apenas diferentes. E belas, ao seu modo.
Eu então comecei a reparar em coisas peculiares em mim, comecei a achar feio.
Ainda assim, eu não me importava tanto. Mas também não passava imune pelo espelho, ia checar as tais peculiaridades que, então, começaram a me incomodar.
Pensei em maneiras de mudá-las. Maneiras de perder tais características. Maneiras de parecer mais com todo mundo.
Na época eu não enxergava o quão besta era isso. Ainda bem que não executei nenhum plano de mudança e continuo com a minha cara.
Comecei a pensar mais nisso quando reparei que todo mundo que usa aparelho, até o fim do tratamento, fica com o sorriso parecido.
O sorriso é algo autêntico, que não dá pra forçar ou imitar. Ter o seu sorriso diferente do de todo mundo é mais interessante.
Mas eu só parei de querer mudar as coisas em mim e comecei a aceitar essas minhas peculiaridades no final do ano passado.
Quando fui me formar no 3º ano, passei o dia num salão, me adequando ao que eu queria parecer naquela noite. Na hora de fazer a maquiagem eu ficava o tempo todo de olhos fechados. Foi um processo longo. Quando acabou a primeira parte e a minha maquiadora foi buscar alguma coisa, eu levantei a cabeça e me olhei no espelho. Eu parecia uma boneca de porcelana e, incrivelmente, eu estava sem olheiras. Ela havia apagado completamente as minhas olheiras. Me achei um monstro branco. Quando ela voltou eu estava aflita, mas resolvi que iria esperar para ver o resultado. Quando fui me olhar no final, eu estava com um leve sombreado embaixo dos olhos. Ela também tinha percebido o quanto eu ficaria descaracterizada e esquisita sem aquelas olheiras, e então levemente sombreou para eu continuar parecendo a Luiza.
E nesse dia eu comecei a me dar bem com as minhas olheiras. Elas fazem parte da composição do meu rosto. Não interessa se é bonito ou feio. É meu. E ninguém nunca terá o mesmo olhar que eu.

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