Ele tinha os dedos tão grosseiros e uma falta de delicadeza nos movimentos, que não conseguia tirar um copo do saco plástico para beber água. Passou minutos sem conseguir puxar um copo, pensei em sugerir que ele bebesse na própria mão, mas seus dedos grosseiros não formariam a concha adequada, haveriam vãos. Enfim, ele fez uma força inadequada e amassou todos os copos, mas conseguiu tirar o seu. Já irritado, tomou um gole d'água com má vontade, no copo rachado. Parecia que engolia serragem. Toda esta grosseria se refletia no ser. O cabelo era branco, meio pintado, bagunçado, mas com uma intenção de penteado, coisa de quem saiu de casa apressado. Vestia um casaco enorme, que parecia ter preguiça de tirar, pois estava quente, ele certamente sentia calor. O tênis era velho, ameaçando vazar o dedão na frente, e o calcanhar ficava de fora, com a meia preta aparecendo. Aquele sapato não servia mais. Talvez faltasse dinheiro pra comprar um novo, não sei, mas a condição do sapato fazia a renovação de carteira parecer fútil e desnecesária.
Também escrito nas costas de um gabarito da auto escola.
It doesn't, and you can't, I won't, and it don't, it hasn't, it isn't, it even ain't, and it shouldn't, it couldn't.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
O que te lembra
Amarelo. Estrela. Sol. Calor. Piscina. Água. Sede. Fome. Comida. Prato. Faca. Arma. Revólver. Bala. Doce. Cárie. Dentista. Médico. Faculdade. Diploma. Papel. Árvore. Natureza. Terra. Minhoca. Formiga. Picada. Coceira. Unha. Esmalte. Tinta. Cor. Amarelo.
Esse é um exemplo extremamente sucinto de uma brincadeira que se chama "O que te lembra...?", que aprendi com a minha prima e brincávamos em longas viagens de carro. Começa a brincadeira com uma palavra qualquer (amarelo, por exemplo), e aí se diz o que esta palavra te lembra, a primeira coisa que vier à mente. E por aí as associações são feitas, independentes da palavra anterior.
Como prato lembra faca e faca lembra arma, mas prato e arma não tem nada a ver um com o outro.
E a brincadeira só termina quando voltar à palavra que se iniciou.
As associações dessa brincadeira são realmente fantásticas e a volta que dá é interessante.
Só quis dividir.
Breve momento de nostalgia.
Esse é um exemplo extremamente sucinto de uma brincadeira que se chama "O que te lembra...?", que aprendi com a minha prima e brincávamos em longas viagens de carro. Começa a brincadeira com uma palavra qualquer (amarelo, por exemplo), e aí se diz o que esta palavra te lembra, a primeira coisa que vier à mente. E por aí as associações são feitas, independentes da palavra anterior.
Como prato lembra faca e faca lembra arma, mas prato e arma não tem nada a ver um com o outro.
E a brincadeira só termina quando voltar à palavra que se iniciou.
As associações dessa brincadeira são realmente fantásticas e a volta que dá é interessante.
Só quis dividir.
Breve momento de nostalgia.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Uma tarde na auto escola
Numa tarde, fazendo simulados do Detran, eu esgotei as possibilidades do que fazer e comecei a escrever atrás dos gabaritos.
Produtos do tédio.
Como este.
Estou apoiando o papel num livreto de simulados, do qual já fiz todos. Dá pra diferenciar o tamanho do texto que escrevo pelo número de voltas que eu tenho que dar na espiral depois para voltá-la ao lugar. A cada linha, eu vou desenrolando parte da espiral com o braço que apoio para escrever. Quando o texto é pequeno, como este, dou poucas voltas.
4 voltas.
Produtos do tédio.
Como este.
Estou apoiando o papel num livreto de simulados, do qual já fiz todos. Dá pra diferenciar o tamanho do texto que escrevo pelo número de voltas que eu tenho que dar na espiral depois para voltá-la ao lugar. A cada linha, eu vou desenrolando parte da espiral com o braço que apoio para escrever. Quando o texto é pequeno, como este, dou poucas voltas.
4 voltas.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Votos de fim de ano
Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar
E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo
Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.
Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada
Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem
Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar
Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar
E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar
Victor Hugo
Só pra ter algo bonitinho pra dizer para quem quer que seja que entre neste blog.
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar
E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo
Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.
Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada
Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem
Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar
Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar
E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar
Victor Hugo
Só pra ter algo bonitinho pra dizer para quem quer que seja que entre neste blog.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Tédio
O tédio não é uma boa fonte de inspiração. Pelo contrário, o tédio só dá mais vontade de escorrer num sofá e dormir a tarde toda.
Mas o tédio forçado é interessante. Ser obrigado a ficar num lugar, sem fazer nada, por muito tempo, acaba te forçando a reparar em alguma coisa, ou a elaborar qualquer pensamento que tenha sido abandonado no meio do caminho.
Ou também, pode provocar o sono daqueles mais preguiçosos, que vivem procurando uma oportunidade de cochilar.
Mas o tédio forçado é interessante. Ser obrigado a ficar num lugar, sem fazer nada, por muito tempo, acaba te forçando a reparar em alguma coisa, ou a elaborar qualquer pensamento que tenha sido abandonado no meio do caminho.
Ou também, pode provocar o sono daqueles mais preguiçosos, que vivem procurando uma oportunidade de cochilar.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
CNH
Estou com siglas, leis e regras inúmeras na mente.
Cada aula que assisto, cada simulado que faço, fico mais indignada com tudo.
É impressionante como eles fazem questão de deixar a gente saber de todas as leis, todas as regras, todas as punições que nunca são aplicadas!
É como se quisessem mostrar pra gente que tem algo de errado, mas são eles os errados, então eu só fico indignada.
E quanto a isso, o que posso fazer? Ir cutucar um policial toda vez que eu presenciar alguma atitude errada? Ficar EU checando as infrações pra poder ir cobrar alguém disso depois?
Não. Eu me contento em amaldiçoar aqueles que ousam acelerar enquanto estou na faixa de pedestres, em mandar pro inferno aquele que faz graça inconsequentemente. E só.
Já pensei em ficar filmando o principal cruzamento aqui de Poços durante um tempo, ou voltando lá vários dias, pra poder flagrar várias infrações. Mas isso seria pior pra mim, acredito eu.
Não é a toa que qualquer um fica impressionado com a educação dos europeus.
Cada aula que assisto, cada simulado que faço, fico mais indignada com tudo.
É impressionante como eles fazem questão de deixar a gente saber de todas as leis, todas as regras, todas as punições que nunca são aplicadas!
É como se quisessem mostrar pra gente que tem algo de errado, mas são eles os errados, então eu só fico indignada.
E quanto a isso, o que posso fazer? Ir cutucar um policial toda vez que eu presenciar alguma atitude errada? Ficar EU checando as infrações pra poder ir cobrar alguém disso depois?
Não. Eu me contento em amaldiçoar aqueles que ousam acelerar enquanto estou na faixa de pedestres, em mandar pro inferno aquele que faz graça inconsequentemente. E só.
Já pensei em ficar filmando o principal cruzamento aqui de Poços durante um tempo, ou voltando lá vários dias, pra poder flagrar várias infrações. Mas isso seria pior pra mim, acredito eu.
Não é a toa que qualquer um fica impressionado com a educação dos europeus.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Papai Noel dos correios
Em meio há tantas cartas pedindo por skates e Barbies, haviam algumas tocantes.
Algumas pediam cesta básica, porque a vontade de comer era maior que a vontade de ter qualquer brinquedo. Uma que eu escolhi pedia livros, porque queria ser incentivada a leitura.
Mas fui tocada por uma específica, que só vi quando fui levar os presentes que comprei.
Quando eu estava deixando as sacolas eu vi uma cartinha diferente, aí peguei na mão pra ler.
Era uma carta em braille, que pedia uma máquina de escrever em braille porque aquela era emprestada.
Nessas horas eu tenho ódio de mim mesma, de reclamar de qualquer coisa na minha vida.
Algumas pediam cesta básica, porque a vontade de comer era maior que a vontade de ter qualquer brinquedo. Uma que eu escolhi pedia livros, porque queria ser incentivada a leitura.
Mas fui tocada por uma específica, que só vi quando fui levar os presentes que comprei.
Quando eu estava deixando as sacolas eu vi uma cartinha diferente, aí peguei na mão pra ler.
Era uma carta em braille, que pedia uma máquina de escrever em braille porque aquela era emprestada.
Nessas horas eu tenho ódio de mim mesma, de reclamar de qualquer coisa na minha vida.
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